quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Koyasan: em meio às montanhas verdejantes e sagradas do Japão

O Monte Koya é a segunda montanha sagrada do Japão (o primeiro é o Fuji). Atualmente ali residem cerca de 3 mil habitantes, dentre eles 700 monges que vivem em 117 templos! Impressionados? No momento de maior expansão, o Monte Koya chegou a acolher 90 mil monges distribuídos em 1812 templos!

O local conta cerca de 15km2 e é rodeado de 8 picos de montanhas, evocando uma flor de lotus com suas 8 pétalas. Desde 2004 faz parte da lista do Patrimônio Mundial da Unesco. 
Sem duvida um lugar unico para se retirar do mundo, em meio às montanhas e às florestas de cedres, ciprestes e pinheiros...

Foi aqui uma etapa importante da história do Budismo no Japão. No ano 816, Kukai (também conhecido como Kobo Daishi, seu nome póstumo), um monge formado na China retorna ao Japão e se instala como ermita na solidão dessas montanhas.

Para se chegar até lá o trajeto é bem demorado e é necessário trocar várias vezes de trem. O trajeto final não está incluso no JR pass, então deve ser pago separadamente, e o trem anda bem devagar, nada a ver com os famosos "trem-bala". A viagem em si até Koyasan é uma aventura, e a ultima étapa é um "vagão" que sobe com uma inclinação de quase 45 graus! Emoção garantida! Ali a gente se sente longe do Japão moderno em meio a toda essa natureza verdejante e  montanhas espetaculares.
A gente entende porque esse local foi escolhido pelos monges em busca de tranquilidade e de paz para meditar.

Uma vez lá em cima, é obrigatório pegar um ônibus até o "centrinho", pois a primeira parte do percurso é proibida aos pedestres (curvas perigosas).

No local não existem hotéis no senso próprio do termo, mas sim hospedagem em um templo ou monastério, chamado shukubõ. Atenção, pois geralmente o local fecha uma certa hora (o nosso às 21h) então é necessário voltar antes. De qualquer forma, a cidade é calma e não acho que tenha muita coisa para fazer à noite.
Entrada de nosso shukubo, onde fomos acolhido por um monge.

Existem várias regras a respeitar, dentre elas retirar o calçado desde a entrada, colocá-los no lugar e posição certos, usar o calçado de interior, caminhar no solo em madeira tentando não fazer barulho e esse calçado deve ser retirado ao entrar no quarto, não se pode pisar no tatami com ele. E para o banheiro é um outro calçado!

Os quartos são de estilo japonês, dorme-se em futon que é preparado por volta das 18h. Era muito fofinho e confortável. As portas são de estilo japonês e no nosso templo sem fechadura, mas havia um cofre para os objetos de valor. O banheiro era separado e compartilhado, assim como o lugar para tomar banho, igualmente em estilo japonês, mas tudo muito limpo Banho delicioso!

A roupa tradicional, Yukata em algodão é disponibilizada aos hospedes e pode ser utilizada nas dependências do templo, dentro e fora do quarto.

Poucos restaurantes no local e os que existem fecham bem cedo, por isso os turistas reservam as refeições no monastério. Nesse tipo de hospedagem a comida é vegetariana budista (shojin-ryori), sem carne, peixe, cebola ou alho. O budismo recomenda uma alimentação vegetariana pois condena o sacrificio de toda forma de vida dotada de consciência. A cozinha dos monges é baseada em 3 principios: 5 sabores, 5 modos de cozimento e 5 cores. Cada refeição deve conter um prato grelhado, um frito, um marinado, um à base de tofu e uma sopa. O tofu é uma importante fonte de proteína para os monges budistas.

Porém preferimos jantar fora, já que o meu marido é meio chato para comer e encontramos um restaurante chinês (ainda era cedo) e com gestos conseguimos encomendar, pois nenhum restaurante tem cardápio em inglês.

Fomos convidados (ou intimados, não sei se nos davam a escolha) à oração da manhã. Em japonês, é claro, não entendi nada, mas me senti muito bem. Na parte final cada um se aproximava, fazia alguns gestos que pareciam preces e agradecimentos, e eu imitei os gestos dos outros hospedes japoneses e aproveitei para agradecer mentalmente diversas coisas e "pedir" outras. Mal não deve fazer.

Para provar a comida dos monges deixamos para o café da manhã:

 Essas duas estrelinhas, com agua quente se transformavam em sopa diante dos nossos olhos!

O café da manhã nos foi servido em uma sala comum com os demais hospedes. Para mim o mais difícil era ficar sentada na posição deles! O meu marido, coitadinho, só comeu o arroz!

O que fazer:
Dormir cedo para acordar cedo e visitar os diversos templos e trilhas, e um excelente ponto de partida é a Porta Daimon, antiga porta de entrada da montanha sagrada. Reconstruida em 1705, mede 25 metros de altura e as divindades guardam a entrada de Koyasan.


Em seguida o Complexo Danjo Garan, constituido de diversos prédios, dentre eles a eclatante pagoda Daitô, que é elemento arquitetural central do complexo.

Infelizmente sofreu diversos incêndios ao longo dos séculos, mas a cada vez foi reconstruída, assim comos os demais prédios, com exceção do Fudô-dô (abaixo), construido em 1197 e considerado tesouro nacional.


Kongobu-ji é atualmente o monastério principal em Koyasan, ele gerencia toda a parte administrativa e ali os interessados podem realizar diversos cursos ligados ao budismo.



Porém sem dúvida o ponto alto de Koyasan é a visita do misterioso cemitério budista Oku-no-in, com sua floresta de árvores centenárias e milhares de tumbas tão diferentes de nossos cemitérios ocidentais. Ali se encontra o mausoléu de Kukai, que segundo os fiéis não estaria morto, mas apenas em meditação pela eternidade.

 Jizo é uma divindade venerada pelos budistas e shintoístas, considerado protetor das crianças e viajantes. Os babeiros vermelhos ou brancos são oferecidos pelos fiéis que perderam uma criança e que pedem à Jizô que a proteja no lado de lá e/ou acordem uma longa vida às demais. Porém esse costume tornou-se tão popular que os babeiros podem ser encontrado em outras estátuas.
 Estupas de 5 andares (gorin-tô), que fazem referência aos cinco elementos: terra, água, fogo, vento e espaço, de baixo para cima. 


São 2km de caminhada e há séculos é um local de peregrinagem. Não precisamos ser budistas nem religiosos para sentimos uma paz imensa. Desde os séculos XI ou XII as familias nobres e samurais enterravam os cendros perto da tumba de Kukai, e mais tarde essa tradição foi adotada pelas familias mais modestas, nem que seja enterrar ali ao menos uma mecha de cabelo.

Quem diria que em país tão pequeno veríamos tantas maravilhas?
E a viagem estava apenas no começo...

Já tinha ouvido falar de Koyasan? O que achou?
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