quarta-feira, 6 de maio de 2015

Os franceses e o hábito dos objetos de segunda mão

Existem várias coisas que admiro nos franceses, e uma delas é a paixão deles pelas feirinhas de objetos de segunda mão e a capacidade de recuperar coisas que para outros seriam lixo e iriam para o mesmo (sem volta).

Explico melhor:

- Além das feiras de antiguidades, com objetos de um certo valor, aqui é muito comum os  "vide-grenier" ("esvaziar-sotão"). O principio é bem simples: os moradores se inscrevem na data estipulada (geralmente 2 vezes por ano) e montam seu stand e vendem tudo que é tipo de coisas que não servem mais. Pode ser roupas de criança (ou de adultos), bichos de pelucia, discos, livros, artigos de decoração, TUDO. Os preços são geralmente irrisorios (tudo vai depender da qualidade/tempo de uso).
Já ouvi muitas brasileiras que moram aqui chocadas com essa prática, elas não entendem a razão de vender roupas de bebê por 2 euros, não estão "precisando a esse ponto", e dizem que preferem doar.
Eh verdade que na nossa cultura brasileira temos o costume de doar o que não serve mais e pensamos que vender seria coisa de "pessoas passando por dificuldades", e ainda por cima quem iria querer comprar? Sem falar na falta de higiene, para muitos...
Questão de cultura mesmo! Eu jah acho muito legal vender por um preço irrisorio, pois acredito que muitas vezes quando algo é recebido de mão beijada não se valoriza. Sem contar que o objeto recebe uma segunda vida, é escolhido por alguém que gostou e que deseja aquele objeto. 
Ainda por cima é um momento de integração social esse de passar o domingo no seu stand vendendo seus objetos e conversando com os vizinhos, comendo uma linguiça grelhada... Classe média brasileira não entende mesmo.
(Vale lembrar que tem muita gente que doa também.)

- Uma vez, no Brasil, meu marido precisava de papelão para uma atividade de lazer/pintura que estava realizando com as crianças e como não tinha nada na casa dos meus pais, saimos para dar uma voltinha e voltamos com umas caixas de papelão que os vizinhos tinham jogado fora. 
Minha mãe (que é uma pessoa simples), achou o nosso comportamento muito estranho, "o que os vizinhos vão pensar, que eu venho de Paris para catar lixo?"
Ela não chegou a formular o preconceito completo, mas imagino que ela ficou com vergonha que os vizinhos pensem que virei "papeleira" na Europa!

No inicio eu também devo ter achado estranho, até me dar conta que realmente é um crime a quantidade de coisa que se joga fora, uma catastrofe ecologica!!! Objetos em bom estado, para que jogar fora?
Na nossa mudança há alguns anos, todas as caixas que usamos foram recuperadas na calçada, que as pessoas deixam bem organizadinhas e limpas. Alguns amigos nossos pagaram uma fortuna por caixas "novas" que são vendidas no comércio. Soh que o problema é que quem não se importa em pagar também não se importa com o meio ambiente!

Até mesmo onde eu trabalho, que é um bairro bem chiquezinho, todos os dias por volta das 19h as pessoas passam e vão recuperando tudo: caixas de papelão e de madeira, cabides (bons), tudo que é tipo de artigos de papeis e decoração. Tem coisas que nem sei para que serviria, mas meu marido sempre tem idéia para alguma coisa. Hoje comentei com ele que vi pessoas bem arrumadas pegando tudo que era tipo de cartazes e ele me disse que o papel é de excelente qualidade e muito bom para pintar por cima. 

O que você acha dessas praticas? Comprar/vender objetos usados e recuperar objetos jogados fora fazem ou poderiam fazer parte da sua realidade?

10 comentários:

Gabi disse...

Eu adoro essa vibe de reutilização,mas é um fato que aqui no Brasil tão engatinhando com isso, ainda é um hábito bem europeu. Tenho visto mais brechós por aqui, mais gente vendendo suas coisas... o enjoei, que é um site para se vender coisas que não quer mais, tem crescido muito. Um dia chegamos lá!

Anônimo disse...

Nossa, tenho todo um "estudo" sobre isso! acho basicamente dois pontos. Primeiro que se nosso costume nos diz que quem recebe doação é pobre. "Prefiro pagar a receber" E segundo que eu acho que somos muuito apegados a "coisas". É uma posse. É meu. .
O que eu vejo de sofá bom em caçamba. Ou cadeiras que são quebradas ao serem jogadas na rua. Uma pena.. que sabe um dia a gente chega lá.
Maíra

vievivi.blogspot.com disse...

Ah eu gosto muito desse hábito, acho até generoso, e quando compro algum objeto de segunda mão, fico imaginando quem foi que usou, escolheu e que certamente se eu tivesse visto antes, também teria comprado.Certos objetos, roupas, etc valem ter várias vidas com variados donos. Aqui ainda tem pouco dessas feirinhas, infelizmente.

Andréa de Azevedo Freitas disse...

Milena, como vai, tudo bem? Esse assunto é importantíssimo, pois se refere na verdade ao uso dos recursos naturais do planeta. O reuso é uma das chaves pra nossa sobrevivência, então nada de jogar no lixo coisas aproveitáveis. Eu fui uma criança pobre e recebi roupas usadas por muitos anos, e doação de roupas novas, mas com as quais eu não me identificava. Hoje posso comprar o que quiser, mas prefiro ter o essencial, poucas peças, de qualidade, que uso bastante, até elas ficarem bem velhinhas. Ainda não vou a brechós, mas já começo a pensar nisso, por curiosidade, talvez seja interessante garimpar peças... Tudo o que ainda possa ter serventia coloco na coleta seletiva, mas meus vizinhos misturam tudo e os catadores abrem os sacos de lixo pra tirar as garrafas pet, alumínio e outros materiais. Brasil ainda engatinhando nessa história. Beijos e parabéns pelo seu artigo.

Anônimo disse...

Eu a-do-ro. Ja vendi até planta... Uma planta de apartamento que tinha ficado muito grande pro meu lar :-) Gostava tanto da plantinha... mas o otimo foi que o comprador era um apaixonado por plantas e me prometeu cuidar muito bem dela. Além disso, fiz uma mudinha antes de vender que ja esta bem crescidinha. Vive le vide-grenier hahahaha. Lucy

Sandra disse...

Por aqui eu vejo até crianças fazendo a vendida delas, rs... vendendo brinquedos/joguinhos que não querem mais, por exemplo. Venda de garagem por aqui eu nunca vi, mas em algumas cidades pelo menos uma vez por mês há um mercado de pulgas onde se vende de tudo. Eu mesma me arrependi de uma vez não ter comprado um conjunto de jantar de porcelana lindoooo, até hoje penso nele, rs...
Eu realmente gostaria de ser mais adepta dessas coisas, mas no dia a dia, acabo não encontrando tanto desses "mercadinhos" quanto eu gostaria.
Eu mesma renovei uma cômoda que pertenceu a minha sogra. Ela iria para o lixo se não viesse para a minha casa. Modéstia a parte, ficou lindona e o móvel, além de ser de família, foi repaginado e ganhou mais alguns anos de vida. A natureza tb agradece!

Eliana disse...

Realmente, isso e muito legal. Aqui na Holanda tem um site super tradicional na compra e venda de tudo o que se possa imaginar. Achamos dobradicas pra uma porta de uma estante bem especifica que temos. Tambem ja vendi umas coisas por la e o preco simbolico e um jeito ate amigavel pra agradecer quem ta vendendo e conservou. E um dinheirinho e sempre bom. Rs

Luana disse...

Pratica comum aqui na Belgica tambem.... acho otimo!

Unknown disse...

nossa entrei atras de uma informação ( e achei) e encontrei muito mais, to adoran do seu blog! e por essas e outras que eu adoro a França, apesar de não conhece la pessoalmente, ainda. Sobre essa cultura de reutilização é maravilhosa, to ate pensando em criar algum projeto aqui parecido com este, pelo menos no meu bairro!! continue nos contan do tudinho!!! bjao.

Allana Andrade disse...

Uma das coisas que AMO na França são os debarras, vide-grenier, brocantes, etc etc etc. AMO AMO AMO! 90% dos meus livros (ja estou super hiper mega feliz com uma coleçaozinha de quase 200) vem desses lugares. Livro por 30 centimes genteeee! Objetos de decoração, tanta coisa bacana! Além disso acho tão interessante poder ver a evoluçao de certas coisas, tipo maquina de escrever manual, depois eletrica... videogames de todos os tipos!
Na nossa mudança não compramos nada, todos os dias eu passava nos mercadinhos pra recuperar caixas e deu super certo!